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Paulo Baía afirma que voz das ruas exige respeito

02/07/2013

Brasília (DF) – O professor Paulo Baía, Doutor em Ciências Sociais e professor do Departamento de Sociologia da UFRJ, abriu o Seminário “Para onde a cidadania quer levar o Brasil?”, promovido na Câmara dos Deputados, nesta manhã, citando o mediador do evento, o ministro Moreira Franco(RJ), quando era candidato a prefeito de Niterói em 1976: “Moreira Franco, naquele momento em que havia um absoluto desconhecimento do que iríamos fazer, disse que ‘o desconhecido está grávido de possibilidades’. É um momento semelhante pelo qual passamos”.

Para o professor, esses movimentos que chegam às ruas brasileiras não eclodiram do nada, refletem os desejos da classe média, que tem anseios que superam o universo do consumo, e que poucos estão enxergando. “Para entender esse movimento, temos que fazer o que se chamou de sociologia no mundo da vida e sairmos do nosso ponto de vista. A novidade não é o que acontece, mas o fato do movimento ter se espalhado e ter atingido a totalidade do país”, afirmou.

São mais de 3 mil municípios com manifestações em todo o país, mais de 80% da população que não está nas ruas se sente representada pelos manifestantes, segundo Paulo Baía. Além disso, o movimento é micro-orgânico, pois existem muitos micro grupos que têm pautas específicas, muitas vezes antagônicas, o que demonstra a vontade desses grupos serem reconhecidos: “não é movimento insurgente, pois não pede a derrubada dos governos, mas quer que eles funcionem bem”, ressaltou.

“Já se falou que eram atos isolados, mas são muitos atos isolados simultâneos, então não podem ser considerados assim. A maioria silenciosa decidiu se manifestar. Se as autoridades forem se organizar pelas pautas dos movimentos, não se chegará a lugar nenhum. O que está acontecendo é o questionamento da nossa representatividade. Dos políticos, da academia, da mídia”, destacou.

O professor ressaltou que a população “não quer mais prato feito, que participar da feitura dos jantares e serví-lo”. “É preciso se reinventar, mas reinventar para valer, não adianta fazer mudanças com a intenção de cooptar o movimento, isso não vai funcionar”, disse. Para ele, qualquer um que se pronuncie com conceitos velhos não vai conseguir falar sobre o que acontece hoje no Brasil e, mais que isso, todos os representantes podem deixar de ocupar esse papel se estiver em sintonia com os anseios dos que estão na rua.

“Nós temos que enxergar o outro a partir do ponto de vista do outro e não fazer do outro espelho das nossas perspectivas e vontades. Tenho que romper o meu olhar e passar a entender como ele sente e como ele olha, mesmo que não concorde com ele, para criar um ponte”, destacou o professor ao falar sobre a nova postura que os políticos devem adquirir após esse momento de movimentção popular. E concluiu: “as sombras das maiorias silenciosas estão vivendo um grande dia de verão e se fizeram luz e gritam ‘nós queremos ser respeitados’”.

Moreira Franco destacou da fala do palestrante a afirmação de que o movimento das ruas não é insurrecional, mas que questiona a representação das instituições tradicionais como sindicatos, partidos políticos, movimentos sociais tradicionais. “Isso nos traz uma visão interessante desses movimentos”, disse.