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#Artigo: “Professor que não estuda não faz o aluno estudar”

30/03/2015

Leandro Grass(*)

Na minha
conversa com os alunos no início de todo ano letivo, faço as seguintes
perguntas: que coisas fizeram na escola, desde o primeiro dia de aula na
educação infantil até hoje, as quais poderiam dizer que são seus autores? Com
exceção dos desenhos de arte e das redações nas aulas de língua portuguesa, o
que foi produzido exclusivamente por eles, sem ter copiado ou replicado de
algum lugar? Ao tentar responder, a grande maioria tem dificuldade em lembrar,
pois, de fato, o que mais fazemos em nossa vida escolar (e continuamos a fazer
na universidade) é copiar, resumir, sintetizar, memorizar e replicar. Vivemos
ainda em uma escola que pouco estimula a criatividade e a autoria. É a escola
do conteúdo por si só, dos exames e das aulas. A escola que repete o conhecimento,
mas que pouco promove sua ampliação.

Partindo
dessa reflexão é que, desde o início de minha prática docente há 10 anos,
procuro maneiras de possibilitar aos estudantes uma nova relação com o
conhecimento. Atualmente, com o apoio das novas tecnologias, tenho
intensificado o desenvolvimento de estratégias capazes de despertar o interesse
dos estudantes pelo aprendizado. Tento fazê-los entender a importância de não
apenas reproduzir, mas de produzir conhecimento.  A realização de
pesquisas instantâneas com dispositivos móveis, o uso de aplicativos para
determinadas atividades de produção multimídia, a disponibilização de tarefas e
materiais em plataformas, e a apropriação de recursos digitais para estudo e
pesquisa foram algumas das minhas recentes iniciativas pedagógicas.

Nesse
processo, a Blackboard tem sido muito útil, considerando seu fácil
acesso e ferramentas que possui. Além de manter todas as possibilidades que
antes tínhamos através do Moodle , são oferecidas outras que servem de apoio aos professores que tem
gosto pela inovação em sala de aula. No primeiro contato com a plataforma,
personalizei o espaço da disciplina para ficar mais atrativo e compreensível
aos estudantes. Linkei meu blog, minha fan page, e criei espaços específicos
para cada uma das etapas de aprendizagem. Tenho disponibilizado materiais de
apoio para estudo como textos, vídeos e links, bem como as tarefas e atividades
que complementam o aprendizado da sala de aula. Criei também um espaço de
discussão e partilha sobre os temas estudados, o que dá aos estudantes a
oportunidade de interagir comigo e com os colegas.

Não há
dúvidas de que as novas tecnologias favorecem e muito o aprendizado pela
pesquisa. Mas a inovação não está em si na tecnologia. A perspectiva do aluno
como sujeito produtor do conhecimento não depende de ferramenta a ou b. Há
muitas formas de permitir que o estudante seja protagonista da aprendizagem e
não apenas passivo, ouvinte de aulas. Tudo começa pelo professor, quando este
se interessa cotidianamente em pesquisar e estudar. Professor que não estuda
não tem como fazer o aluno estudar. Esse é um dos pilares daquilo que entendo
como docência. Cada dia tenho mais gosto e vontade de aprender e acredito que
isso serve também de estímulo para meus alunos, em especial quando compartilho
com eles as coisas que descubro, as novidades que recebo, textos que li e achei
interessantes, além das oportunidades que vão surgindo no ambiente acadêmico,
como palestras, encontros e projetos.

Ao longo dos
últimos anos tenho intensificado as atividades de pesquisa e produção com os
estudantes. Em alguns projetos foi possível que eles se apropriassem de
conhecimentos sobre metodologia científica e produzissem inclusive artigos. No
ano passado, 2014, em parceria com os colegas da disciplina de História, realizei
um projeto que resultou em mais de 50 artigos coletivos de alunos no 3º ano do
ensino médio de nossa escola, sendo alguns passíveis de publicação em
decorrência de sua boa qualidade. Nesse processo, os recursos digitais foram
extremamente úteis, tanto para a pesquisa e compartilhamento de materiais
quanto para a elaboração dos textos e apresentações. O retorno dos estudantes
foi muito positivo. Alguns que ingressaram recentemente no ensino superior
comentaram que já estão utilizando as técnicas de pesquisa que aprenderam e,
por isso, sentem-se mais preparados que seus colegas de curso para lidar com os
desafios da vida acadêmica.

As
exigências da Educação no século 21 ressignificaram o uso social do
conhecimento. O conteúdo continua sendo importante, mas deixou de ser o fim,
passando a ser o meio para a apropriação de saberes e habilidades necessárias
aos desafios de nosso tempo. Acredito que inovação não precisa ser algo
complexo, pois depende de simples ações, sustentadas por um descontentamento
com aquilo que não se mostra mais efetivo.  Na perspectiva do aprendizado
pela pesquisa, pretendo continuar a explorar as novas tecnologias e consolidar
minhas estratégias pedagógicas, tornando a aprendizagem mais interessante aos
estudantes e as metodologias usadas em sala de aula mais flexíveis. 

(*)Professor e pesquisador 

Artigo publicado originalmente no portal Porvir.