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‘Há esforço para comprometer a honra de Temer’, diz Moreira Franco
17/09/2017DANIELA LIMA
EDITORA DO “PAINEL”
17/09/2017 02h00
“Conseguiram uma coisa fantástica: unir o PMDB. Dr. Ulysses [Guimarães] não conseguiu, Michel Temer não conseguiu, mas esse infográfico consegue”, diz.
Moreira falou com a Folha na última quarta (13), em Brasília, antes da formalização da nova denúncia contra o presidente. Diz que o revés na delação da J&F mostra que “a verdade dos fatos é mais forte que a verdade da versão”.
Sobre a foto dos R$ 51 milhões atribuídos ao exministro Geddel Vieira Lima, é econômico. “Deve ter uma explicação. Espero que tenha.”
Folha – A Polícia Federal concluiu inquérito sobre o chamado quadrilhão do PMDB e implicou o presidente e o núcleo duro do governo, inclusive o sr., num esquema de corrupção.
Moreira Franco - Recebi a informação com muita surpresa, porque não fui ouvido. A coisa mais elementar num inquérito dessa natureza é ouvir as partes, não só o delator. Isso me causa um sentimento de injustiça e até de impotência do ponto de vista do exercício da minha cidadania. E vejo nesse infográfico [o esquema montado pela PF para ilustrar a suposta organização criminosa] vários furos, furos que quem acompanhou as delações publicadas pode constatar.
Por exemplo?
Aparece lá o meu nome vinculado à OAS. Eu conheci o presidente da OAS quando era ministro da Aviação Civil, no governo Dilma. E conheci com ele trazendo uma demanda que não foi atendida.
Qual era a demanda?
Ele queria que fosse suspenso um critério adotado para os leilões dos aeroportos. E se mobilizou, me atacaram na imprensa… Fui convocado à Comissão de Transportes da Câmara, entraram com medida junto ao TCU. Dizem agora que eu teria recebido R$ 5 milhões. Na realidade, eles [OAS] deram ao PMDB uma contribuição de R$ 5 milhões, o que irritou profundamente o Eduardo Cunha, que nunca nutriu por mim nenhuma simpatia.
E viceversa.
O PMDB tem como característica uma divisão interna muito grande. Eu tenho uma relação com o presidente Michel Temer. É uma pessoa com quem eu tenho identidade acadêmica e intelectual. Agora, a partir daí querer montar um conjunto, uma teia de compadrio para a prática do ilícito, é uma afronta.
Esse gráfico consegue uma coisa fantástica: ele une o PMDB. Doutor Ulysses [Guimarães] não conseguiu, Michel Temer não conseguiu, mas esse infográfico consegue.
Lúcio Funaro, apontado como operador do Cunha, também faz acusações ao PMDB da Câmara, ao presidente e ao senhor.
Nunca estive com esse senhor, nunca vi na minha vida. Ele era ligado ao Cunha. E minhas relações com o Cunha não eram de intimidade.
Ele cita negócios na Caixa, banco do qual o sr. foi vicepresidente.
O FIFGTS [linha de financiamentos que seria liberada à base de propina] foi criado pelo presidente Lula. Quando eu entrei ele já existia. O FI era administrado por outra vicepresidência, a de Ativos de Terceiros. A área que eu comandava se pronunciava apenas sobre a conformidade da proposta. E era uma avaliação feita embaixo, nem chegava a mim.
Não tive nenhuma ingerência. Não agia no processo de decisão, não do ponto de vista financeiro.
Funaro diz ter provas.
Quero ver as provas. Prova existe ou não existe. E deveria estar nos autos. Uma delação é só um indicativo à apuração. Só que no Brasil de hoje a delação está substituindo a investigação.
Como você vai receber recursos se você não tem poder de decisão? A impressão que eu tenho é que há um esforço grande para comprometer a honra do presidente. E como eu tenho uma relação com ele há anos, o esforço de me introduzir nisso é para atingilo.
Como viu o revés na delação de Joesley Batista?
Temos que ter espírito público para combater os excessos. Pegamse delatores e abre processo. Bate, depois arquiva, mas o dano já está feito. Não tenho dúvida de que a verdade dos fatos é muito mais forte do que a verdade da versão. É isso o que as pessoas estão vendo.
O senhor fala como se excessos fizessem parte da depuração.
Veja, se for olhar a história, a Revolução Francesa teve um período de terror. Robespierre fala por si só. [Maximilien de Robespierre, um dos personagens mais importantes da Revolução Francesa. Era tão radical que mandava matar até aliados moderados. Acabou morto na guilhotina.]
Estamos há mais de dez anos em um processo que começou no mensalão e vem até hoje. Esses episódios mostram que o sistema político já não atende mais, está podre. E não digo podre por ter havido o mensalão, mas porque não é mais funcional. Está bichado no que é essencial: na capacidade de fortalecer e de ser fortalecido pela maioria.
O governo foi criticado pela prática do ‘presidencialismo de cooptação’…
Se não houver uma mudança no sistema, o próximo presidente vai ter muito mais dificuldade, porque vai ter que conversar um a um. Dificilmente um partido fará mais de 60 deputados. Para atingir maioria numa casa de 513, só na conversa individual. E a conversa individual contamina. Todo sistema do mundo preserva e fortalece a maioria. O nosso, desde o governo Sarney, fortaleceu as minorias.
E como é, nesse cenário, que se barra uma denúncia?
Nós temos a sorte de ter um presidente que é advogado. Como advogado, ele tem convicção da inocência dele. Ele consegue, por respeito ao Judiciário, separar os campos. É claro que, creio eu, nunca falei com ele sobre isso, do ponto de vista pessoal, deve ser muito dolorido. Se para mim é… Mas nós estamos cuidando do governo. Cuidando bem.
No caso, quem aceita ou rejeita a denúncia é o Legislativo.
Sim, mas ele entende esse processo como judicial.
O senhor diz que o governo vai bem, mas pesquisas mostram que a população não vê assim.
Até vê, mas ainda não penetrou na sociedade. O presidente Temer recebeu mais de 13 milhões de desempregados. Isso três, quatro anos depois de o país ter vivido pleno emprego. Não é brinquedo. Mas os ganhos que a economia teve nesse um ano nos fizeram sair da recessão. Em todas as áreas é possível ver a retomada do espírito empreendedor.
Quando viu a foto dos R$ 51 milhões atribuídos ao exministro Geddel Vieira Lima, o que foi que pensou?
Olha, as fotos que temos visto nesses episódios todos, todas elas são muito ruins. Não só essa que você citou.
Há explicação para ela?
Ele deverá ter. Eu espero que tenha… Aqui nós estamos fazendo a nossa parte. Aprovamos a TLP, por exemplo. Isso não é só um esforço para reduzir juros reais, é uma manifestação da percepção de que uma das fontes da corrupção estava na chamada “Bolsa Empresário”, é para evitar a promiscuidade na concessão de crédito. Uma ferramenta para redefinir relações na delicadeza do detalhe.
Leia entrevista completa em http://bit.ly/2hbfznk