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Temer: ‘O governo Bolsonaro vai bem porque está dando sequência ao meu’
22/07/2019Em entrevista exclusiva à BBC News Brasil, ex-presidente opina sobre atual gestão no Planalto, sua conversa com Joesley Batista, vazamento de diálogos atribuídos a Sergio Moro e Deltan Dallagnol e a Reforma da Previdência.
Michel Temer é um homem com tempo. Quase oito meses depois de deixar a Presidência da República, ele está em dia com os principais lançamentos da plataforma Netflix: assistiu às minisséries Olhos que Condenam (“O Trump deveria pedir desculpas aos negros”, comenta) e Guerras Brasileiras (“Faltou incluir a Revolução Constitucionalista nos episódios”, nota), além de Os Últimos Czares.
Temer passa seus dias entre o escritório de advocacia e a casa, onde mora com a mulher Marcela e o filho Michelzinho, de 10 anos. Ocupa-se também da própria defesa – é réu em seis processos e chegou a ser preso em março e depois em maio, em um caso comandado pelo juiz Marcelo Bretas, responsável pelo braço carioca da Operação Lava Jato. E, por fim, dedica-se a seu novo projeto, um romance que qualifica como “uma ficção da minha biografia”.
“Romance é uma coisa assim, é um trabalho, você escreve, de repente você volta, rasga aquilo, escreve, reescreve”, explicou Temer em entrevista à BBC News Brasil em seu escritório em São Paulo, na última quinta-feira.
Na conversa, Temer repassa pontos de seu governo, que chama de “reformista”, e elogia o atual presidente Jair Bolsonaro (PSL) por dar “continuidade” a seu programa, o que inclui a aprovação da reforma da Previdência e a proposta de uma reforma tributária.
“Eu me recordo, quando presidente da República, eu dizia: ‘olha, será bem sucedido o presidente que der sequência àquilo que estou fazendo’. Do jeito que as coisas vão indo, o governo vai bem, porque está dando sequência ao nosso governo”, disse.
O político do MDB comenta ainda seus dias atrás das grades, a prisão e o ostracismo dos antigos companheiros políticos, as conversas atribuídas ao ex-juiz federal Sergio Moro e o procurador Deltan Dallagnol e a conversa que teve com o empresário Joesley Batista, cuja divulgação detonou a maior crise política de seu governo e quase o derrubou.
Com as mãos sobre uma cópia da Constituição, que fez questão de colocar em cima da mesa, ele se compara ao protagonista da série americana Designated Survivor, em que um secretário de governo é alçado à Presidência depois da morte do presidente e de todo o resto do gabinete.
“É a história de um sujeito que assume em um impasse. Eu assisti naquela época (do impeachment). Eu me via muito na figura dele, sabia? Porque ele assumiu meio acidentalmente, né (risos)?”, afirmou.
A seguir, os principais trechos da entrevista.
BBC News Brasil – Como o senhor avalia o governo Bolsonaro?
Michel Temer – Você sabe que eu acabo avaliando até positivamente… Por uma razão, digamos, singela, e que vem muito ao encontro daquilo que eu penso. Eu me recordo, quando presidente da República, eu dizia: “olha, será bem sucedido o presidente que der sequência àquilo que estou fazendo”. Do jeito que as coisas vão indo, o governo vai bem, porque está dando sequência ao nosso governo.
E veja, eu posso dar aqui vários exemplos. Por exemplo, a questão da Previdência Social. A Previdência Social só foi aprovada agora porque na verdade, durante dois anos, eu fiz um debate intensíssimo sobre a Previdência Social e agora acabou sendo aprovada em primeiro turno. Suponho que será aprovada em segundo turno, é importante, fundamental para o país.
No passado houve muita resistência, mas esta resistência foi vencida pela campanha que nós fizemos ao longo do tempo.
BBC News Brasil – O senhor acha que essa vitória da Previdência é mais sua do que de Bolsonaro?
Temer – Não… Sabe o que é, nós temos muito no Brasil essa concepção política equivocada que é tentar sempre destruir o governo anterior. Eu não faço isso em relação a nenhum governo.
Agora, o meu teve esse mérito de colocar a Previdência, como de colocar outras reformas. Reformas fundamentais para o país, como a reforma trabalhista, a reforma do Ensino Médio, a recuperação das estatais…
Convenhamos, a inflação tinha dois dígitos, veio para menos. Quando terminei o governo, tava em 3,75%, portanto abaixo da média. Os juros, que estavam em 14,25%, vieram para 6,5%, o meio ambiente.
Eu dou o exemplo aqui da União Europeia e Mercosul… Como se chegou a isso? Praticamente não deu tempo, digamos assim, no meu governo, de fechar este acordo, mas ele concluiu-se nesse governo. Então, eu digo: o governo Bolsonaro não saiu da linha pré-traçada no meu. E por isso, digamos assim, eu posso falar positivamente em relação ao governo que ele está fazendo.
BBC News Brasil – O senhor tem essa visão construtiva sobre os governos anteriores ao seu, do PT?
Temer – Tenho. Eu digo com toda a franqueza, o governo Lula fez, digamos assim, que os mais pobres, que eram praticamente invisíveis, se tornassem visíveis – por meio do Bolsa Família, depois, com a presidente Dilma, com o Minha Casa Minha Vida. Que na verdade, são meros cumprimentos do que estabelece a Constituição Federal.
BBC News Brasil – O senhor assumiu afirmando que seu governo seria o governo do diálogo. Seu sucessor tem um estilo diferente disso. Como o senhor avalia o estilo do presidente?
Temer – Aí cada um tem seu estilo… O meu é conciliador, de agregação.
Quando eu assumi a Presidência, o que que eu disse? Quem é que governa no país? É o Executivo com o Legislativo. Porque se você não tiver apoio do Legislativo, você não consegue governar.
Veja que no caso da Previdência Social, quem acabou tomando as rédeas foi o próprio presidente da Câmara (o deputado federal Rodrigo Maia). E o que eu fiz? Logo que cheguei, eu até rotulava o meu governo como semipresidencialista, porque eu chamei o Congresso Nacional para trabalhar comigo. E por isso que nós conseguimos essas reformas todas.
BBC News Brasil – Como vê a atuação de Rodrigo Maia?
Temer – Ele colabora muito. E colaborou muito comigo.
BBC News Brasil – O senhor acha que o modelo semipresidencialista está instaurado de fato no Brasil?
Temer – Os fatos estão determinando que o Congresso cada vez tenha mais presença executiva, e não apenas legislativa.
Qual é a vantagem do semipresidencialismo? A primeira é que o Legislativo passa a ser um responsável pela execução: você pode apontar o dedo para o Legislativo e dizer, você é responsável pela execução, não é só o presidente. A segunda é evitar os traumas institucionais.
Eu vivi isso, vocês sabem, quando assumi a Presidência da República, era logo chamado de golpista, aquela confusão. Fruto do quê? De um presidencialismo que, a todo momento que há um impedimento, gera um trauma institucional.
Agora, convenhamos, essa questão do presidente Bolsonaro… é interessante, digamos, há falas que muitas vezes se contradizem. Porque ele diz que o povo precisa disso, precisa daquilo, que o Congresso tem que acompanhar o que o povo quer… Mas na verdade, ele lança palavras elogiosas ao Rodrigo, ele vai lá ao Congresso, diz que tudo depende do Congresso…
BBC News Brasil – Enquanto isso, o filho dele tuíta contra o Rodrigo Maia…
Temer – É o filho dele, né, não é ele…
O primeiro ponto é o seguinte, os três filhos dele são políticos. Por mais que sejam filhos dele, quando se manifestam também se manifestam em função do cargo de senador, deputado federal, vereador… Agora, há uma realidade, que é a realidade de comunicação nos dias atuais, que é a rede social. E eles realmente, não sei se criam problemas para o pai, porque eu nunca vi o pai, o presidente Bolsonaro, criticar o filho… Dizer: “Olha, não faça isso”. Pelo contrário, ele enaltece a atividade dos filhos. Aqui volto a dizer, cada um tem seu estilo.
BBC News Brasil – Como vê os baixos índices de aprovação do governo Bolsonaro?
Temer – É decepção, né… É natural essa decepção. Toda vez que alguém chega ao governo, chega dando muita esperança, as pessoas esperam muito. A gente não pode pautar-se apenas pela popularidade, e convenhamos, falando de mim, se fosse pautar-me pela minha popularidade, eu não teria feito as reformas que o país precisa.
A questão da popularidade não significa que o governo está bem ou está mal. O governo precisa agir, ir pra frente.
BBC News Brasil – O senhor acha que aproveitou bem a sua impopularidade?
Temer – Eu acho, com toda a franqueza, e com toda a imodéstia. É que às vezes as pessoas tendem, quando você está na presidência, a te desprezar. Mas interessante, eu tenho observado nos últimos tempos, onde eu vou, e mesmo notícias de jornais agora, que dizem: “Isso começou no governo Temer”. Então estou vendo um reconhecimento. Ou seja, a história é mais importante do que o momento.
BBC News Brasil – Outra característica do governo Bolsonaro é a presença de militares, uma tendência que começou no seu mandato e que está sendo agora ampliada. Como vê essa expansão?
Temer – Eu não faço distinção nenhuma entre brasileiros ditos militares e brasileiros ditos civis. Essa coisa pegou muito aqui no Brasil por causa de 64 (1964, ano do golpe militar). Nos Estados Unidos não existe isso.
BBC News Brasil – Mas eles nunca viveram uma ditadura militar.
Temer – Pois é, exatamente. Eu nunca fiz essa distinção por uma razão singela. Os militares são muito preparados. Eu tive um apoio extraordinário dos militares.
BBC News Brasil – Como foram seus dias na prisão?
Temer – Desagradáveis. Mas vou contar a você, para ser presidente da República, primeiro você precisa ter uma vida interior muito acentuada. Se você não tiver, você se influencia pelo que as pessoas estão dizendo a seu lado. Eu sempre tive uma vida interior muito fértil, graças a Deus.
E essa vida interior me permitiu verificar aquela barbaridade que foi feita na primeira prisão. Eles poderiam perfeitamente ter ido à minha casa e dito: “Olhe, Michel Temer, nós estamos aqui com um mandado de prisão e queremos que nos acompanhe”. Claro que eu acompanharia. Mas não, eles montaram de uma forma que pudesse fazer a prisão na rua, esperaram eu sair de casa.
Quando eu fui olhar a decisão, não é nem sentença, é um despacho preliminar, verifiquei que não havia sequer um processo formatado. É como se o juiz de Birigui dissesse: “Vamos mandar prender alguém? Vamos prender esse Michel Temer”.
BBC News Brasil – O senhor se sente desrespeitado?
Temer – Um desrespeito brutal, fantástico, uma coisa jamais vista. Vocês sabem que logo depois que eu fui recebido na Polícia Federal, devo registrar que eles me trataram com uma dignidade extraordinária, até com um certo constrangimento. Alguns até tinham lido os meus livros, prestaram concurso com meus livros. Mas não digo que a história vai reconhecer, no dia seguinte, começaram a dizer nos jornais “isso é uma indignidade”.
Com o espírito punitivista que tomou conta do país o esperado é logo dizer: “Delenda Temer”. Quer dizer, bota ele na forca. E não aconteceu isso, ao contrário, houve uma reação contra aquilo que se deu.
BBC News Brasil – O senhor vê semelhanças entre o seu caso e o do ex-presidente Lula?
Temer – Eu não sei se o juiz do Rio de Janeiro (Bretas, que ordenou sua prisão) tem contato com os procuradores, como se diz que tinha o juiz Moro com os procuradores. Não sei dizer. Mas que havia um sentido punitivista, não temo dizer, com absoluta convicção.
BBC News Brasil – Esse contato entre Moro e Deltan seria impróprio?
Temer – A ser verdadeiros os diálogos que se verificaram, eu mais uma vez invoco a Constituição, não vou nem falar do juiz Moro. A função do juiz é ser imparte, ou seja, não parte interessada no litígio, daí a imparcialidade. Agora, se em vez de falar com o promotor, o procurador, (o juiz) tivesse falado com o advogado de defesa “faça isso, faça aquilo”, seria impróprio também.
O Judiciário há de ser permanentemente imparcial. Eu sou de Tietê, no interior de São Paulo, no meu tempo de menino, o juiz tomava o cuidado de não falar com quase ninguém.
BBC News Brasil – O juiz então trocando mensagens…
Temer – Não pode. Eu acho que não pode.
BBC News Brasil – O senhor se arrepende de ter recebido Joesley Batista naquela conversa, naquelas condições? Como o senhor avalia a sua conduta?
Temer – Pois é, você sabe de uma coisa… Se eu disser que não me arrependo, a essa altura eu tenho que me arrepender, né?! Mas é que meu hábito era um hábito parlamentar, um hábito pessoal. Eu tinha cinco audiências marcadas na agenda. No fim do dia ia ver, eu tinha recebido 15 pessoas. Porque chegava o deputado, chegava o senador, chegava o empresário – o chefe de gabinete avisava, eu dizia: “pede pra esperar que eu atendo”. E atendia.
Houve uma concepção equivocada que o presidente trabalha das 8 da manhã às 6 da tarde e depois vai embora. Não é assim, o presidente trabalha 24 horas por dia. Eu trabalhava até 23 horas, meia-noite. Recebi dezenas de empresários no Jaburu (Palácio do Jaburu, residência oficial do vice-presidente), o procurador-geral da República, aquele rapaz que ficou na procuradoria…
BBC News Brasil – O Janot (Rodrigo Janot, ex-procurador geral da República)?
Temer – O Janot. Recebi lá no Jaburu várias vezes, nos mais variados horários e muitas vezes sem agenda. Não mandava colocar na agenda. Não ia ficar toda hora, bota na agenda, tira da agenda.
BBC News Brasil – Mas receber sem registro na agenda é um erro, né, presidente?
Temer – Bom, mas deixa eu te falar, o que mais me caceteou foi que criou-se uma frase falsa, a frase não existe.
BBC News Brasil – O “tem que manter isso aí”?
Temer – Não, o “tem que manter isso aí” existe. Mas qual é a frase anterior que você conhece: “Estou dando dinheiro…”.
BBC News Brasil – “Estou dando dinheiro ao Eduardo Cunha”.
Temer – Veja a gravação de novo. Veja a degravação, não existe a frase. A frase que existe é a seguinte: “Olhe, eu sou amigo do Eduardo, o senhor sabe”. Ele (Joesley) falava do deputado, né?
“Eu me dava bem com ele, estou de bem com ele”. (nota da BBC News Brasil: na transcrição do diálogo, antes de Temer dizer “‘Tem que manter isso aí”, a última frase de Joesley Batista, na transcrição da Agência Brasiol, foi “Que que eu mais ou menos dei conta de fazer até agora… Eu tô de bem com o Eduardo.”)
Aí eu digo: “Mantenha isso, viu”, mantenha a amizade. Eu (não) vou dizer “brigue com ele”, percebe?
O que houve foi um equívoco muito grande, veja bem o que você acabou de dizer: “Tem que manter isso”. Ao longo do tempo, acabou diluindo a ideia da frase anterior, tanto que você teve alguma dificuldade para se lembrar da frase anterior. Nos primeiros momentos, eram 18 horas por dia reproduzindo uma frase: “Estou dando dinheiro para fulano de tal para manter o silêncio dele”.
E eu não conseguia, por mais que eu quisesse combater.
O sujeito (Joesley) estava gravando para entregar para a procuradoria, foi embora e esqueceu o gravador ligado. Daí vocês sabem daquele áudio sujo (uma gravação aparentemente acidental em que o empresário e um de seus funcionários, Ricardo Saud, discutem os termos de sua colaboração premiada, que teria contado com ajuda ilegal do ex-procurador Marcelo Miller) , que gerou no procurador-geral a necessidade imperiosa de pedir a prisão do Joesley, daquele outro assecla deles (Saud) e do próprio procurador (Miller). Em um trecho do áudio, eles dizem: ‘o procurador fulano (Miller) pediu a cabeça do Temer e nós demos’.
BBC News Brasil – Presidente, por que o senhor diria ao Joesley para manter amizade com Eduardo Cunha?
Temer – O que eu ia dizer, ia dizer para que brigasse com o Eduardo Cunha? Eu não vejo razão. E eu conhecia o Joesley, Ele era um empresário, vocês se esquecem que ele era um empresário que tinha 150 mil empregados?
Naquele dia, quando ligaram para a minha chefe de gabinete, eram 19h e eu disse: “Olhe, diga pra ele (Joesley) vir agora então”. Porque diz que pela quinta vez ele tentava uma audiência comigo e não conseguia, eu disse: “Diga pra ele vir agora que eu estou desocupado, diga a ele que pode vir aqui no Palácio”.
Ele disse que não, que só ia chegar às 10 da noite. Aí eu disse: “Então fale para ele ir ao Jaburu, 22h30, 23h, porque eu ia cumprimentar o Noblat (Ricardo Noblat) que fazia 50 anos de jornalismo e estava tendo um encontro no Piantella (restaurante em Brasília). Imaginei que ia levar uma hora, uma hora e meia, e depois ia pro Jaburu. Foi por essa a razão que eu o atendi lá.
Agora, se o sujeito vem pra mim e diz “tenho amizade com o fulano”, não vou dizer “brigue com ele”. Não tenho razão pra dizer isso.
BBC News Brasil – Seus aliados, Moreira Franco, Geddel Vieira Lima, Eliseu Padilha, Henrique Eduardo Alves, Romero Jucá estão todos processados, presos ou no ostracismo, não se reelegeram. O que aconteceu, presidente?
Temer – Aconteceu que todos eles têm muito mais mandatos que eu. Às vezes dizem que eu chefio uma quadrilha há 45 anos, que eu amealhei R$ 1,8 bilhão. Eu há 40 anos não estava na vida pública. Eu iniciei uma vida pública na verdade em 1995, primeiro eu fui procurador do Estado, fui secretário de segurança, depois fui pra Constituinte, que era uma coisa mais técnica.
Essas pessoas que você mencionou me auxiliaram ao longo do tempo nessa atividade política e ao longo do tempo me acompanharam. Depois, eles e o partido todo insistiu que eu fosse presidente da Câmara, eu fui em 1997-1998, 1999-2000. Quando saí em 2000, 2001: “você tem que ser presidente do partido”. O Henrique Alves era ministro da ex-presidente Dilma e deixou o ministério quando começou aquela história do impedimento, né? Quando eu cheguei, com a maior razão, eu falei: ‘vou trazê-lo, afinal ele era ministro’.
BBC News Brasil – Hoje alguns deles têm contra si acusações muito graves de corrupção. O senhor tomou conhecimento?
Temer – Pois é. Não tomei conhecimento, se tivesse tomado conhecimento… Nem quero dizer se praticou atos ou não praticou atos, mas claro que eu não tomei conhecimento de nada disso. O que está sendo questionado nos autos, eles estão se defendendo.
BBC News Brasil – Mas o Geddel (Geddel Vieira Lima, ex-ministro da secretaria de Governo na gestão Temer) está inclusive preso.
Temer – O Geddel já foi uma outra coisa, foi aquela questão do apartamento (a Polícia Federal apreendeu R$ 51 milhões em espécie em um apartamento da família).
BBC News Brasil – É normal um político guardar aquele volume de dinheiro?
Temer – O que você acha? (Risos).
BBC News Brasil – Não me parece, mas importante é o que o senhor acha.
Temer – Tal seria que eu respondesse positivamente.
BBC News Brasil – Não é normal, né?
Temer – É isso.
BBC News Brasil – O senhor se preocupa como sua imagem vai ficar para a história?
Temer – Positivamente… Por tudo que estou contando a vocês, e pela oportunidade que a BBC está me dando, eu acho que será positivamente. E aliás um positivo que eu imaginei que viria no futuro, mas eu vejo que está se processando precisamente agora. Vocês não estão aqui sem razão, se fosse alguém inteiramente deteriorado, eu nem sei se vocês estariam.
BBC News Brasil – O Bolsonaro o está redimindo, de alguma maneira?
Temer – Redimindo no sentido que está dando sequência ao meu governo. Ele (Bolsonaro) acaba revelando o que foi o meu governo. Mas é interessante que a minha vida não se cinje apenas à Presidência da República, isso que eu estou contando pra vocês dos 58 anos (de carreira), tem toda uma história longa que cingiu-se a um periodozinho que o rapaz foi me gravar lá, é isso.