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‘Ainda nos organizamos para iniciar a travessia’, diz Moreira Franco

15/05/2017

MARINA DIAS
DE BRASÍLIA

Um dos principais auxiliares do presidente Michel Temer, Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência) disse em entrevista à Folha que o governo ainda não iniciou a travessia que levará à estabilidade política e econômica. Segundo ele, Temer ocupa a “cabeceira da ponte”, de onde tenta organizar as bases para a retomada do crescimento do país.

Em balanço de um ano de gestão, completado na sexta-feira (12), Moreira admite que “não é interessante para o governo” ter Renan Calheiros (PMDB-AL) com uma postura crítica às reformas.

Alvo de inquérito aberto em decorrência de delação da Odebrecht, o ministro diz que a Lava Jato “não é um problema exclusivo do governo Temer” e que quando um ministro do STF emite uma opinião contrária à operação “as pessoas precisam parar e ouvir”.

Folha – Qual o maior erro e o maior acerto após um ano de governo Michel Temer?

Moreira Franco – Temer não se atemorizou e enfrentou a mais grave crise econômica da história. Esse foi seu grande acerto.

O governo soube quais medidas deveriam ser tomadas do ponto de vista do Executivo e do Legislativo. Tem cabido ao presidente competência na execução, sobretudo porque esse período que estamos vivendo é a cabeceira da ponte, ainda não iniciamos a travessia da ponte.

A cabeceira é quando organizamos, do ponto de vista institucional, de regras, de política, de ambiente, a situação econômica para que restabeleçamos a confiança. Esse esforço é para termos as bases para segurar uma travessia adequada.

Não aponta nenhum erro?

Sem nenhuma soberba, tenho dificuldade de caracterizar um erro. A razão é singela: a situação político-institucional de Temer era de tal ordem que, qualquer erro cometido, o governo caía no precipício.

A principal bandeira de Temer são as reformas trabalhista e da Previdência. Como melhorar a popularidade do governo –hoje em 9%– com temas considerados impopulares?

Esse é um conflito que se radicaliza em um ambiente de crise econômica. Para resolver o problema de 14 milhões de desempregados, você precisa de simpatia ou competência? Para viver, prefiro pessoas simpáticas, mas, para resolver problemas, prefiro gente competente.

A reforma da Previdência é rejeitada por 71% da população, segundo o Datafolha. Há erro de comunicação do governo?

Não. Se você for perguntada se quer fazer uma cirurgia cardíaca, responderá que não. Agora, se está com um grave problema circulatório que afeta seu coração, tem que fazer uma cirurgia ou vai sofrer consequências muito graves, está disposta a fazer? Dirá que sim. A pergunta [do Datafolha] estava errada. A comunicação é para dar dimensão a um problema político. Mas não resolve, a não ser que você minta.

Passado um ano, a economia não decolou e o Congresso ainda resiste às reformas. O que deu errado?

Nada. O documento “Uma Ponte para o Futuro” [diretrizes do PMDB] diz em letras muito claras que o problema não seria fácil e rápido de se resolver. Será uma luta longa.

O empresariado tem dito que o BNDES tem dinheiro, mas não empresta.

Tem dinheiro mas está mudando o mecanismo de empréstimo. A presidente Maria Silvia [Bastos Marques] tem dado demonstração de que bom projeto é aprovado num prazo rápido.

A partir das reformas, em quanto tempo a economia vai apresentar sinais de melhora substancial?

As projeções são para o fim de 2017, isso se as reformas forem aprovadas no Congresso até o meio do ano.

Temer fará a reforma política?

Vou dar minha opinião pessoal, não do governo: há um equívoco em achar que a mãe de todas as reformas é a política. A mãe de todas as reformas é a economia. Com desemprego, fome e violência, as condições são ruins para a reforma política.

O líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros, faz críticas às reformas. Ele tem poder para atrapalhar as votações?

O Renan sempre verbalizou muito e, por isso, é um líder importante do Senado. Achamos que conversa e caldo de galinha não fazem mal a ninguém. Estamos dando caldo de galinha e conversa a ele para mostrar que o país precisa disso [aprovar as reformas].

Temer e os ex-presidentes Lula e FHC têm conversado, via interlocutores, sobre um acordo para salvar a classe política diante da Lava Jato. O sr. acredita que a operação prejudicou os políticos?

Tenho sido um interlocutor que conversa com FHC e Temer em várias circunstâncias. Não tenho essa relação com Lula. Mas posso assegurar que essas articulações não existem ainda. Sempre acho que conversa não faz mal a ninguém. São pessoas que vão saber fazer a seleção do que é importante ou saudável para o país de acordo com suas convicções. Com relação à Lava Jato, não acho que ela tenha prejudicado o país.

O ministro do STF Gilmar Mendes disse que a Operação Lava Jato fez “reféns” com prisões preventivas para manter apoio público. O senhor concorda com essa visão?

Não é que não concorde. Não li as declarações. Acho que ele é uma pessoa altamente qualificada e precisamos respeitar. Quando um ministro do STF emite uma opinião, as pessoas têm que parar e ouvir.

Em que medida as investigações atrapalharam o governo, Temer visto que oito ministros, inclusive o senhor, estão implicados na delação da Odebrecht?

O melhor seria se não tivéssemos esses problemas. Agora eles existem, já foram colocados no plano jurídico e têm que ser tratados adequadamente. Não é um problema exclusivo do governo Temer, é uma realidade que está presente de maneira extensa.

Um ex-executivo da Odebrecht disse em delação que o senhor atuou em defesa de interesses da empreiteira nas concessões aeroportuárias. Em contrapartida, teria recebido R$ 4 milhões. O senhor recebeu esse dinheiro?

Esse problema será tratado nos autos. Estou tranquilo porque sei o que fiz.

Matéria: http://bit.ly/2qfYLS1