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Artigo: Olhar o futuro com atenção sem perder o otimismo
17/04/2015*Moreira
Franco
A notícia veiculada nesta
quinta-feira (16) dando conta do rebaixamento da nota de crédito (rating) do
Estado do Rio de Janeiro em escala global de BBB- para BB+, pela agência de
classificação de risco Standard & Poor´s, reflete o momento difícil da economia
do país e deve ser encarada com serenidade e monitorada com atenção. O sinal
vermelho está aceso e não podemos perder o tempo de agir. A hora é agora.
Embora o quadro de
dificuldade atual, acredito que podemos olhar o futuro com certo otimismo. Na
mesma nota, a S&P aponta estabilidade no ambiente de curto prazo. Isso quer
dizer que ainda há tempo para adotar medidas corretivas que aprumem o rumo
dessa Nau. Faz-se necessário uma intervenção precisa, cirúrgica, não só para
manter as contas nos trilhos, mas, principalmente, para aumentar a capacidade
de investimentos privados e, assim, preservar o emprego e a renda.
A principal fonte de
arrecadação do Estado é o Imposto Sobre Circulação de Mercadorias, o ICMS,
dinheiro advindo da atividade produtiva. Quanto mais a economia se mantém
aquecida maior é a arrecadação, e vice-versa. No entanto, vivemos um momento de
retração, de incerteza, com o aumento da inflação dentro de uma perspectiva de
taxa anual que pode bater na casa dos oito por cento. Inflação alta combinada
com a arrecadação menor é uma fórmula já conhecida pelos brasileiros, sobre
tudo os que viveram plenamente os anos anteriores ao Plano Real. É
nitroglicerina pura, que corrói as contas publicas e privadas e ameaça como
guilhotina afiada os pescoços de todos, principalmente de quem habita a base da
pirâmide social.
Aliado a desaceleração
econômica, temos uma baixa acentuada do preço internacional do petróleo, e não
é segredo para ninguém que o Rio de Janeiro é o maior arrecadador de Royalties
sobre a exploração do combustível fóssil do país. Com o barril valendo quase a
metade do que estava cotado há bem pouco tempo, é de se imaginar o reflexo
negativo que esse movimento provocou nas contas estaduais.
Por outro lado o Estado assumiu o compromisso de organizar no próximo ano os Jogos
Olímpicos, os primeiros no continente Sul-Americano. Não tenho dúvidas de que
as competições em nossa cidade encantarão o mundo, e não só pela qualidade dos
equipamentos oferecidos aos atletas, mas também pelo cenário único do Rio de
Janeiro e pela capacidade de acolhimento de nosso povo. Mas para realizar esse
evento foi necessária adequação da infraestrtura, com execução de um cronograma
financeiro e de obras pesados, que ao fim e ao cabo deixarão um grande legado
para a cidade. Isso significa dinheiro comprometido com a qualidade que as
Olimpíadas exigem. Aí não podemos recuar.
Então, como manter a
geração de empregos e os investimentos necessários e, ao mesmo tempo, readequar
o caixa, aumentar a arrecadação e estabilizar a capacidade de pagamentos do
Estado? Penso que o enfrentamento se dará por meio do engajamento efetivo dos
homens do governo e do empresariado para aumentar a capacidade de
investimentos.
De minha parte,
apesar do alerta vermelho emitido pela agência de risco, volto o olhar para o
futuro com perspectiva otimista, comprometido com a empregabilidade, com o
crescimento econômico e com as conquistas sociais. Essa é a meta que temos de
atingir. Eu confio. Mas precisamos agir com rigor, união e comprometimento.
*Moreira Franco é
presidente da Fundação Ulysses Guimarães. Foi ministro nos governos Dilma e
Fernando Henrique Cardoso. Ex-governador do Estado do Rio de janeiro e
ex-deputado federal.