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05/02/2015

A Fundação Ulysses Guimarães tem um espaço em seu site
destinado à publicação de artigos. Temas relacionados à educação, política,
cidadania e economia são alguns dos assuntos abordados. Gostaria de enviar seu
artigo para a #FundUlysses? Mande seu texto para o e-mail ead@fundacaoulysses.org.br.  

Confira a publicação desta semana:

O professor e a Educação do século 21

A chegada do livro digital e o uso crescente das tecnologias educacionais nas salas de aula têm despertado em muitos o sentimento de que a Educação no Brasil está chegando ao século 21. Com isso, cada vez mais, recai sobre o Professor a necessidade de aprender a dominar novas tecnologias para não ser considerado obsoleto e responsável pelo atraso do sistema educacional brasileiro.

É claro que os Professores — como qualquer outro profissional preocupado com seu trabalho — precisam se inteirar das novidades em sua área, mas será justo responsabilizá-los pela efetivação da Educação do século 21? Se quisermos entender melhor as responsabilidades e os limites do trabalho do Professor nessa questão, pode ser útil percorrer os trilhos da história do nosso sistema educacional.

Hoje, pode parecer natural pensar que crianças e jovens vão à Escola para estudar. Porém essa ideia é recente em termos históricos. Foi após a Revolução Industrial e, principalmente, após a Revolução Francesa que a Educação apareceu como necessidade universal, laica e de responsabilidade do Estado. Dentro do contexto de virada do século 18 para o 19, surgiram os Sistemas Nacionais de Ensino, que, em boa medida, funcionam no mundo ocidental até hoje e cuja base é “voltada para a transmissão do conhecimento acumulado pela humanidade e sistematizado logicamente”, como descreve o Professor Dermeval Saviane.

Nesse contexto, a Escola nasce e se configura como espaço fechado, com salas de aula onde os Alunos devem permanecer sentados em fileiras, ouvindo e copiando as informações transmitidas pelo Professor durante 50 minutos (esse foi considerado o tempo médio capaz de atrair a atenção de um estudante na época).

Mas hoje vivemos em outro tempo histórico e os jovens do século 21 têm uma realidade bastante diferente da dos Alunos do passado. Vivemos em uma realidade marcada por mudanças que se reconstroem a cada segundo: novas tecnologias, redes sociais, bombardeio de imagens por meio da televisão, internet, videogame, novos valores culturais, sociais e econômicos. Tanto a forma de adquirir conhecimento quanto o conhecimento em si estão inseridos em outra realidade, não mais estanque ou compartimentada.

Porém, ao mesmo tempo em que a sociedade convive com as novidades, nosso modelo educacional continua, em grande parte, atrelado às estruturas do século 19. O Ensino, em larga escala, ainda se encontra baseado em aulas expositivas e faz pouco uso das novidades encontradas fora dos muros da Escola. Para agravar ainda mais a situação, pesquisas recentes com neurociências e psicologia mostraram que o tempo de atenção de um Aluno de hoje em uma aula é de seis minutos, quando muito, chega-se a 20 minutos.

O Professor fica no meio do fogo cruzado: trabalha em ambiente cuja estrutura se fundamenta nos século 19, mas lida com os jovens que vivem o século 21. Claro que, em seu cotidiano, o Professor — formado a partir de conceitos pedagógicos do século 20 — pode e deve lançar mão de ferramentas que permitam que as aulas estejam mais ligadas à realidade do Aluno, como trabalho mais sistemático com imagens, jogos (eletrônicos ou não), construção de blogues, produção de filmes etc. São recursos que atraem os estudantes ansiosos por tarefas mais interativas e menos contemplativas.

Mas não adianta simplesmente o Professor ser do século 21 se a Escola como um todo não o for. Por isso, torna-se urgente construir uma Escola que tenha como base a sociedade deste século. Uma Escola que funcione amparada nas necessidades e na realidade de seu entorno; onde os Alunos se sintam desejosos de participar por verem suas realidades e sonhos discutidos e inseridos no programa Escolar; em que o espaço de circulação e aprendizagem não fique restrito à sala de aula; onde o mobiliário seja pensado para a nova realidade; onde a arte e o esporte sejam verdadeiramente recurso pedagógico; onde as diferenças sejam valorizadas e respeitadas e onde o erro seja apenas uma das etapas da aprendizagem.

GISLANE AZEVEDO
Historiadora, é presidente da Associação Brasileira dos Autores de Livros Educativos (Abrale) 

Artigo publicado originalmente no jornal Correio Braziliense (DF)

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