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Crise na tomada de decisão marca protestos atuais, afirma Thiago de Aragão

02/07/2013

Brasília (DF) – O consultor político da Arko Advice, Thiago de Aragão – segundo palestrante do Seminário promovido pela Fundação Ulysses Guimarães -elencou os principais pontos que teriam motivado milhares de pessoas a saírem às ruas e reivindicarem novos direitos, desde a segunda semana do mês de junho.

Para Aragão, o cerne da crise vivida pelo governo brasileiro nos últimos dias se refere à uma crise de tomada de decisão. Há segundo ele, uma discrepância entre as decisões do governo e aquilo que a população realmente necessita. “Criou-se uma ilusão de que o que está sendo entregue para o povo satisfaz todas as necessidades de quem está recebendo, mas quem está está recebendo não tem os veículos necessários para ingressarem nesse processo de tomada de decisão”, disse.

Outro ponto destacado por Aragão, diz respeito ao esvaziamento da participação de uniões sindicais e de estudantes ainda no primeiro ano do governo Lula. “As gestões dos presidentes José Sarney, Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso, viveram um período no qual as manifestações de várias entidades funcionavam como mecanismo de pressão popular constante. Esses presidentes viveram sempre com pressões da sociedade. A partir da gestão Lula, onde houve um acordo muito próximo entre o governo e esses movimentos, que de certa forma retirou das ruas a participação desses grupos”, declarou.

Aragão afirmou que essa realidade surgida no governo Lula influenciou de maneira significativa os movimentos que ganharam as ruas este ano. “A sociedade que antes se via representada, ao menos parcialmente, na energia e vontade dos sindicatos e dos estudantes, perdeu isso no início da administração Lula, onde a junção do Executivo e desses movimentos foi total”.

O consultor ressaltou que as medidas tomadas pelo então presidente Lula surtiram efeito porque satisfaziam as necessidades do povo. “Isso retirou naturalmente o povo das ruas. A medida que se iniciou um novo governo, a população entendeu que não mais possuía mecanismos de pressão para influir no processo de tomada de decisão. Por isso que hoje vemos no Brasil inteiro um rechaço quando se ingressam bandeiras de movimentos partidários ou sindicais, já que esses grupos estão fora de combate desde 2003”, ponderou.

Na opinião do consultor, esses fatores geraram uma agenda difusa, uma situação em que o ponto principal é a busca pelo respeito e pelo ingresso de várias camadas sociais no processo de tomada de decisão. “A insatisfação da classe média e das classes mais altas já acontece há muito tempo. Até mesmo a postura diária da grande mídia em relação ao governo também pode ser observada há tempos. Se prestarmos atenção no posicionamento das mídias eletrônicas é diferente da mídia impressa, que é diferente da mídia televisiva. No entanto, a que tem mais capilaridade que é a televisão nunca se colocou nem 70% a favor do governo, mostrando sempre uma postura crítica e essa era a informação recebida pela maior parte da população”, avaliou.

Segundo Aragão, a imagem dos estádios representa para o povo a eficiência que o governo não demonstrava em outras áreas. “A administração política passa a custar mais caro. O custo de manter uma coesão política aumenta. E isso é chave para saber como o governo vai passar a se comportar daqui pra frente”, concluiu.