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“Defendo que o governo apoie um candidato” diz Moreira Franco

15/03/2018

Integrante do núcleo duro do Palácio do Planalto, o ministro da Secretaria-Geral, Moreira Franco, elege a geração de emprego como o principal objetivo da administração nos 10 meses que faltam para o final do mandato de Michel Temer. A reforma da Previdência foi descartada e tampouco a segurança pública foi citada como tão urgente. Conselheiro do presidente, o ministro avalia que o desemprego será um dos principais assuntos da eleição presidencial. Na entrevista, Moreira só revela desconforto e irritação quando questionado sobre a baixa popularidade do presidente e o encontro dele com a presidente do STF, Cármen Lúcia. Temer é um dos investigados na Lava-Jato no caso de propina da Odebrecht ao PMDB. Para o ministro, não há crime na reunião de ambos.

O senhor é candidato a deputado?

Não. Tive uma legislatura em que os quatro anos foram só de apurações, julgamentos de deputados no plenário. Estava na fila para a cassação do deputado José Dirceu (PT) e me perguntei: “o que estou fazendo aqui?”. Não quis ser advogado porque não era minha curiosidade intelectual, não queria julgar, condenar, constranger, investigar pessoas. Prefiro investigar sobre relações sociais, que é a minha atividade.

O senhor se desiludiu?

Não é desilusão. Acho que há uma disfunção institucional. Durante muito tempo, o Legislativo judicializou a política. E a situação se agravou de tal ordem que hoje existe politização do Judiciário. Esse ambiente gera muita insegurança, porque o principal ponto da Constituição é a harmonia e a independência dos poderes. Na desarmonia, você não consegue dar estabilidade social e econômica para a sociedade.

Temer será candidato à Presidência?

Até agora não tem essa postulação e nem essa cogitação.

O senhor sustenta que o PMDB tenha um nome à Presidência?

Não necessariamente o PMDB. Defendo que o governo apoie um candidato.

Quem seria?

Não sei. Está muito cedo ainda.

Já há pré-candidatos em campo.

Política não é feita pelo relógio nem pelo calendário. Os prazos começam a contar efetivamente no processo eleitoral no próximo dia 7. Aí, você começa a ter fatos.

Teve um fato recente que é a pré-candidatura do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Ele é o seu nome para concorrer à Presidência?

Tem a dele, a do ministro Henrique Meirelles… Para citar só dois do campo do governo. Quando chegar o momento oportuno, o governo vai ter um nome. Por quê? Com governo de dois anos, tiramos o Brasil da maior crise econômica da nossa história.

Maia e Geraldo Alckmin (PSDB-SP)têm dito que não são candidatos para defender esse governo. Por que isso?

Pergunte a eles. Quem sou eu para responder pelos outros?

Qual a sua avaliação desse tipo de resposta de líderes ligados ao governo?

Cada um tem o direito de ter sua opinião. Garanto o direito de cada um pensar nas besteiras que quiser. O que não significa que eles estejam pensando besteira.

Alckmin não é opção para esses nomes que o senhor sonda para o governo?

A candidatura do PSDB não tem trânsito na base do governo que me permita colocá- la no mesmo patamar que Maia e Meirelles. Mas estou te dando um fato, o PSDB tem ministro que está no governo (Aloysio Nunes, no Itamaraty) e vai ficar, espero.

Quando o senhor assumiu os projetos de concessões de estradas, disse que o governo tinha pressa. Até agora, nem o bloco gaúcho, o mais adiantado, teve o edital de licitação lançado.

A expectativa do nosso pessoal, que tem ido com muita frequência ao Tribunal de Contas da União discutir com técnicos e ministros, é que, nas próximas duas semanas, eles aprovem. Porque só falta isso, aprovar. O projeto já foi amplamente debatido, discutido, aprofundado, é tecnicamente consistente.

O senhor já disse que o governo teria de liberar as concessões em tempo muito mais curto ou viabilizar outras ações de investimento em infraestrutura. Isso ainda não saiu. Por quê?

Neste caso específico, se você pega o conjunto das concessões, (a demora) é uma coisa surpreendente. E mais: o volume de recursos injetado na economia é seis vezes maior em investimento do que para melhorar a situação fiscal do país. Para melhorar a situação, a nossa meta é a geração de empregos. O país precisa gerar empregos para que possamos diminuir a tragédia social que o presidente Temer recebeu, com quase 13 milhões de desempregados. Geramos mais de 2 milhões até agora.

Mas é grande o índice de subemprego.

Para nós, o que importa é o salário. Depois vamos discutir as condições. O que importa na legislação nova é o salário, a pessoa saber que tem a segurança de que todo mês vai ter o dinheiro na conta porque trabalha com horário fixado, com negociações feitas e isso é o fundamental.

Então, por que a popularidade do presidente Temer ainda é tão baixa?

Você tem de perguntar para o entrevistado (nas pesquisas de opinião), e não para mim. Sei lá por quê.

O que o governo pode fazer diferente para tentar reverter essa tendência?

É perseverar.

O presidente está sendo investigado por suspeita de corrupção com base em delação da Odebrecht. O senhor acha correto que ele tenha visitado a presidente do STF para reunião na casa dela?

Claro que sim. É o presidente da República com a presidente do Supremo Tribunal Federal. O que há de incorreto?

O fato de ele estar sendo investigado, com aval do Supremo?

Mas é o presidente da República e ela é a presidente do Supremo Tribunal Federal. O que há de incorreto em essas pessoas se encontrarem à luz do dia? Ela como presidente, ele foi à casa dela. O que há de incorreto?

O que o senhor acha das críticas?

Absolutamente inconsequentes. Há um nível de intolerância absolutamente inconsequente. É a maior autoridade política do país com a autoridade jurídica do país. Então, não é qualquer um. Não tem de responder como se fosse um crime.

O ministro da Justiça fez crítica sustentando que o presidente não deveria ser investigado por situações anteriores ao mandato. O senhor concorda?

Não sou advogado. Ele é advogado, jurista, constitucionalista, tem background (bagagem) adequado. Hoje, há uma politização do Judiciário. No passado, juiz falava nos autos, como se dizia. Hoje, fala na televisão.

Quais as principais pautas que o governo terá de concretizar?

Emprego, renda e crescimento econômico.

O governo tentará resgatar a reforma da Previdência depois das eleições?

A prioridade é a segurança. Hoje, temos de perseverar lá no Rio de Janeiro.

Terminado o governo, o presidente, o ministro Eliseu Padilha e o senhor ficam sem o foro privilegiado.

Não estou aqui por causa de foro privilegiado. Vim para cá sem ter (foro).

Não lhe preocupa perder o foro?

Absolutamente não.

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