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Minha tese é de que o PMDB tenha um candidato ao governo do Piauí, diz João Henrique

11/01/2017

O secretário-executivo da FUG e presidente do Conselho Nacional do SESI, João Henrique, falou à jornalista Cláudia Brandão, da revista Cidade Verde. Durante a entrevista, João Henrique falou sobre a situação da indústria brasileira, do estado do Piauí, e sobre os planos do PMDB de lançar um candidato ao governo do Piauí em 2018.

Confira:

João Henrique de Almeida Sousa é um homem com vasta experiência política e administrativa nas três esferas de poder: municipal, estadual e federal. Advogado por formação, encontrou na vida pública a sua grande vocação. Já exerceu os cargos de secretário de estado nas pastas da Educação, da Administração, do Governo e da Cultura. Na prefeitura de Teresina, foi secretário municipal de governo. Filiado ao PMDB, transita com desenvoltura por diferentes espectros políticos, tendo sido ministro dos Transportes no governo Fernando Henrique Cardoso, presidente da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos no governo Lula; e, atualmente, presidente do Conselho Nacional do SESI, no governo Michel Temer, de quem é amigo pessoal. Mas o seu projeto agora é chegar ao comando do Palácio de Karnak, sucedendo o governador Wellington Dias (PT). Para isso, irá iniciar uma caravana de visitas ao interior do estado ainda este ano, começando pela cidade de Piripiri, no próximo dia 15. A ideia é levar sua proposta de governo para os piauienses de norte a sul.

RCV – O Brasil está atravessando uma das piores recessões econômicas, com fechamentos de empresa e postos de trabalho. O que a indústria pode esperar esse ano?
JH – Eu acho que vamos ter um 2017 com uma retomada ainda leve, mas significativa. Eu tenho viajado pelo país todo, no desempenho desta função para a qual eu fui nomeado pelo presidente Michel Temer, que é a presidência do Conselho Nacional do SESI, e isso me tem colocado em contato com os presidentes das federações das indústrias de todo o Brasil. Inclusive, eu queria registrar que nós idealizamos que, uma vez a cada mês, o presidente da república se encontre com um grupo de empresários de quatro estados. Cada presidente de federação convida os empresários do seu estado e apresente o que é necessário para o desenvolvimento das indústrias locais, entregando um documento com sugestões e reivindicações ao presidente da república. Por essas conversas, nós já começamos a deslanchar, embora de forma lenta, porque encontramos o país em uma situação gravíssima.

RCV – A reforma apresentada no final do ano passado pelo governo, com a flexibilização dos contratos de trabalho, já é fruto dessas conversas com os representantes da indústria?
JH – Eu acredito que sim. Em todas essas conversas que ele tem mantido com o empresariado, têm sido levantadas questões de ordem trabalhista e entraves burocráticos que existem para o desenvolvimento da indústria. E o presidente, atento a isso, começou a tomar providências no sentido de que sejam desburocratizadas as relações trabalhistas.

RCV – Aqui no Piauí, outro entrave que atrapalha o desenvolvimento da indústria, segundo os próprios empresários, é a má prestação no fornecimento de energia elétrica. O que pode ser feito para atender a essa reclamação da indústria piauiense?
JH – Quando houve o encontro com os empresários piauienses, esse foi um ponto abordado pelo presidente da FIEPI, José Filho. E o presidente da república tomou alguma providência nesse sentido, e eu destaco aqui a possibilidade, já concreta, de que as empresas de distribuição de energia possam passar por uma privatização. Já foi demonstrado que a Cepisa não tinha mais condição; depois, a Eletrobrás fez uma compra de seis empresas de distribuição de energia elétrica, inclusive a nossa. E agora se vê que a Eletrobrás, que é uma empresa geradora e não distribuidora de energia, não tem a devida estrutura para implementar uma distribuição de energia. Daí porque nós caminhamos para a privatização. Eu creio que, uma vez privatizada, haverá condição de ter mais investimento no setor energético no Piauí.

RCV – Qual é a avaliação que o senhor faz dos primeiros meses do governo do presidente Michel Temer?
JH – Eu hoje estava lendo um artigo publicado no jornal Folha de S.Paulo que mostra que o presidente Michel, nesses seis meses de governo, conseguiu aprovar no Congresso Nacional projetos que há muito tempo se tentava aprovar e não se conseguia .Por exemplo: a Lei do Petróleo, que acaba com a obrigatoriedade da participação de 30% da Petrobrás na abertura de poços do pré-sal. Em consequência disso, empresas já estão habilitadas para começar a fazer o trabalho do pré-sal, que estava totalmente engessado e, por conta disso, o valor das ações da Petrobras já subiu fortemente. Depois, ele aprovou a Lei de Governança das Estatais, que determina quem pode presidir uma estatal hoje. Há uma série de condicionantes para que alguém possa presidir uma estatal a partir de agora, o que foi extremamente importante. Tem ainda a PEC do teto, que tinha que acontecer porque não tinha mais condição de ficar como estava, Fazia-se um orçamento para o Brasil sem teto, ou seja, se colocava o que queria, em expectativa de receitas que não vinham, havia a pressão no sentido de as verbas serem liberadas e o Estado começou a se endividar, na proporção de fechar o ano de 2015 com esse déficit de R$ 170 bilhões. Isso foi equacionado com a PEC do teto. Eu acho que isso, por si só, já é uma vitória considerável.

RCV – No entanto, apesar da aprovação de todas essas medidas, a popularidade do presidente Michel Temer continua caindo. Nesse cenário, ele vai conseguir manter o apoio necessário para votar as reformas que ainda faltam, como a da previdência, por exemplo?
JH – Eu acho que, em determinado instante, o presidente tinha que optar: ou ele ia para a rua se apresentar como um presidente popular e fazer o que a população gosta, ou ele teria que enfrentar a questão do Brasil, que era muito grave. Creio que pela responsabilidade dele, pela estrutura e dimensão política que ele tem, ele resolveu fazer aquilo que realmente deveria fazer: enfrentar a realidade brasileira, voltar a fazer por onde o país possa retomar um grau de desenvolvimento. Nós começamos o ano com quase 11% de inflação e estamos fechando com 6%. Isso é resultado de um trabalho de política econômica, uma vez que a inflação é o mais violento dos impostos, porque corrói o bolso de todo mundo. Eu acredito que, enfrentadas essas dificuldades, haverá de chegar o momento em que a população irá reconhecer o trabalho do presidente Michel Temer.

RCV – Ele já disse, certa vez, que ia fazer o que tivesse que ser feito, porque não tinha pretensão de se candidatar novamente. Essa afirmação deve ser cumprida, mesmo em uma situação de recuperação da economia?
JH – Creio que sim. Ele não pretende realmente entrar na seara de buscar uma reeleição. Ele diz sempre que reconhece que recebeu o Brasil em uma situação caótica e que seu trabalho é recuperar o país e entregá-lo ao seu sucessor extremamente melhor do que recebeu.

RCV – Ainda falando do presidente, ele tinha uma visita agendada para o Piauí no final do ano passado, que foi cancelada em função da agenda de votações do Congresso. Já há uma nova data marcada para ele vir aqui?
JH – Ainda não há uma data agendada, mas tenho certeza que ele virá ao Piauí. Inclusive, tem obras que foram concluídas agora no governo dele, que ele pretende vir pessoalmente entregar.

RCV – Mudando de assunto, o PMDB está voltando a assumir o protagonismo político, com o comando da república, do senado e da vice-prefeitura aqui em Teresina. Com isso, já começa a sonhar também com o Palácio de Karnak. O senhor está mesmo disposto a sair candidato a governador do Piauí?
JH – O que eu tenho feito é buscar um entendimento para que o partido possa ter um candidato. A minha tese é que o PMDB, pela dimensão nacional que obteve, com a presidência da República e do Senado Federal, tenha um candidato a governador aqui no Piauí. Eu creio que o partido dispõe de nomes, e o meu é um deles, assim como há outros que possam a vir a disputar a eleição em 2018. Acredito muito nisso.

RCV – Com quem o PMDB poderia compor para disputar o governo do estado?
JH – Eu acredito que, primeiramente, devemos definir a possibilidade de termos um candidato. Todos sabem que o PMDB andou muito próximo de compor com o atual governador. Mas, ao final de uma reunião, que considerei histórica, o PMDB, com sua executiva toda reunida, preferiu não fazer essa composição; no que, meu entender, tomou uma decisão muito certa. Eu não vejo como estarmos no mesmo palanque em 2018. Evidente que o destino do PMDB não será o destino do PT. O Partido dos Trabalhadores terá um viés e nós teremos outro. Em consequência disso, ficou acertado naquela reunião, e isso tem sido cumprido, que a bancada do PMDB na Assembleia Legislativa não faltaria ao estado. E, portanto, tem feito isso, independente de poder fazer uma coligação. Eu até disse que o modelo do PT para o Piauí esgotou, que não há mais propostas que possam ser caracterizadas como uma perspectiva futura, até porque o exercício de doze anos de mandato começa a deixar brechas e permitir que ocorram situações que não deveriam ocorrer, como pagamento indevido de despesas particulares.

RCV – O senhor disse que o modelo do PT já cansou, mas o PMDB também já governou o país por várias vezes. De que forma o PMDB se apresentaria como novo ao eleitor?
JH – O PMDB, quando governou o estado, trouxe um nível de desenvolvimento muito maior que o PT nesses últimos doze anos. As obras básicas e infraestrutura foram feitas por Alberto Silva. O próprio governo do Mão Santa trouxe ações extremamente marcantes,e  eu cito uma delas aqui, da qual eu participei ativamente, que foi o projeto Sanear. Teresina não possuía esgotamento sanitário, o que impedia a sua verticalização. Foi no governo Mão Santa que foram feitos 350 km de esgoto em Teresina. Então, é uma obra, por si só, extremamente significativa, sem citar as obras de Alberto Silva. Ele projetou o pré-metrô, para provar que a cidade carecia de um transporte de massa como esse, e lá se vão quase vinte anos. De lá pra cá, não aconteceu absolutamente nada. O trem que continua circulando é o mesmo que ele deixou. O governo atual já anunciou milhões de vezes a estrutura para fazer um metrô em Teresina ou ampliar o existente, e não aconteceu nada. Estão parados no tempo e nós precisamos retomar essas coisas que têm sentido grandioso para a capital e para o estado como um todo. A mesma coisa com a barragem de Castelo, que com doze anos de governo do PT, ainda não saiu do papel. Eu reconheço que o governador tem uma habilidade política muito grande, mas habilidade de gestão, nenhuma. Eu fui secretário de administração no governo do Zé Filho e nós encerramos o mês de dezembro com uma folha de R$ 295 milhões e 88.760 contracheques. A folha do estado hoje está em R$ 373 milhões, ou seja, são R$ 80 milhões a mais, com 92.869 contracheques, sem que o estado tenha adquirido receita na mesma proporção.

RCV – Caso o PMDB volte a assumir o governo do estado, qual o modelo de gestão que deve ser implementado?
JH – O que acontece é que as coisas se modernizaram e nós ficamos parados no tempo. Precisamos colocar o estado dentro da sua estrutura e fazer por onde obtermos receitas próprias a partir do estado. É preciso que nós voltemos, inclusive, a incentivar a vinda de indústrias para o Piauí. Eu vivo hoje nesse meio e sei que isso é possível. Mas o Piauí tem criado é dificuldades, ao ponto que todo mundo está se mudando para Timon.

RCV – Mas, para atrair indústrias, é preciso criar infraestrutura que dê suporte a esses empreendimentos.
JH – Principalmente energia. Mas existe a disponibilidade de energia para cá. É preciso apenas que nós façamos a distribuição dessa energia, o que eu acho que poderá ocorrer a partir do instante que tenhamos uma empresa distribuidora com maior capacidade. Eu reconheço que a Eletrobrás fez investimentos portentosos no Piauí; se não os tivesse feito. nós não teríamos mais luz de forma alguma. Eu entendo que o estado precisa se atualizar e ser melhor gerido, de forma que traga estrutura para as pessoas viverem aqui, traga expectativa para que essas pessoas possam aqui viver e traga receitas para que essas pessoas vivam bem. O saneamento é outro ponto básico, que tem que acontecer em todos os municípios do Piauí. Então, energia, saneamento e segurança são coisas básicas. O que eu pretendo fazer agora é visitar as cidades do estado e fazer uma palestra mostrando aqui que o Piauí tem condição de ser e de fazer. A potencialidade desse estado em produção de soja é uma coisa fantástica, mas não tem sido dado o valor e o apoio necessária àquela estrutura, que é o que está salvando o estado.