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Por mais Marielles

16/03/2018

Em um texto emocionado, a líder da Juventude do MDB e vice-presidente da Associação de Mulheres da Ilha do Governador (RJ), Carla Pereira Moreira, manifestou toda a sua indignação pela morte violenta da vereadora Marielle Franco, ocorrida na última quarta-feira (14).

Em março, no mês das Mulheres, perdemos Marielle, mulher com “M” maiúsculo, que lutou e, mesmo sendo cria do complexo da Maré, conquistou um currículo admirável, pouco comum para as nossas realidades. A luta de quem luta é para gerar oportunidades e direitos, sonhando que nasçam, cada vez mais, “Marielles” em nossas favelas, nas  periferias , nos campos , nos acampamentos .

Hoje, o Rio chora mais uma vez a perda de uma guerreira. Infelizmente, em todo país, matam líderes que defendem bravamente algum ideal, sejam elas líderes políticas , indígenas, camponesas , líderes comunitárias ou líderes  religiosas.

O feminicídio de mulheres empoderadas é um reflexo do preconceito e do ódio de pessoas que não admitem se tornar o alvo da luta de uma mulher. Parece que sentem confiança na impunidade, já que ainda não temos uma política pública que abrace a causa feminina. A educação pública e privada deveria incluir a educação de gêneros nos currículos escolares. As crianças e os adolescente de hoje precisam estar preparados para entender direitos fundamentais e, com isso, tornarem-se adultos capazes de compreender que feminicídio é uma questão central e prejudicial à grande parte da população brasileira: as mulheres.

Os números são alarmantes. Muitos casos passam desapercebidos por grande parte da população. Afinal, nem todas as guerreiras, que são assassinadas ou violentadas, recebem atenção da grande mídia. Na semana passada, uma líder do movimento das catadoras de côco de babaçu, no Piauí, quase morreu esfaqueada pela disputa de uma cerca, mas felizmente sobreviveu. Outras líderes não tiveram a mesma sorte.

Lamentavelmente, em menos de uma década, perdemos a Juíza Patricia Accioly,  morta na porta de casa, no Rio de Janeiro. A líder religiosa, Yá Mukumby, foi assassinada com sua mãe e neta. A líder rural , Kátia Martins, foi assassinada na frente do neto de apenas oito anos. No Amazonas, a líder da comunidade Portelinha, Maria das Dores, foi sequestrada, torturada e assassinada. No Pará, tiraram a vida da Maria Trindade, líder quilombola de 69 anos que foi morta e enterrada com o corpo apresentando sinais de violência sexual. Em 2005, no mesmo estado, também foi assassinada a missionária Dorothy Stang , com seis tiros, aos 73 anos de idade .  Ano passado, mataram a presidente da associação de moradores da Cidade Alta (RJ), Glória Maria. Em Salvador, a líder comunitária, Lindinalva de Oliveira, de 56 anos  e, em São Paulo, a líder comunitária, Matilde Cruz também foi assassinada . Assim, também,  perdemos a líder do movimento agrícola, Terezinha Rios, a líder do movimento Ribeirinho , Nilce de Souza , a líder do movimento sem-terra, Jocélia, bem como a sua filha Emanuelly, de 5 anos, que foi assassinada junto à mãe,  em um acampamento no Paraná.  Em Rondônia, mataram a machadadas uma líder camponesa. Todas eram mulheres com vozes relevantes e potentes, mas foram caladas.

Sabemos o quanto é difícil ser mulher. Agora, imagina o quanto é difícil  ser uma mulher que luta pelo seus ideais , de personalidade forte. Não é fácil ser uma mulher que desminta o rótula de “sexo frágil “. É difícil ser uma mulher que luta pela sua  vida e, ainda mais difícil, seguir na luta pela vida dos nossos . Marielle e todas essas outras mulheres, vítimas de crimes hediondos,  devem ser exemplos de que podemos ser o que quisermos. Elas deixam um legado de determinação e de lutas . Não mataram uma vereadora, não mataram líderes. Cada vez que matam uma líder brasileira , matam os sonhos da nossa gente e assassinam o Estado democrático por direito . Mas, mesmo diante de tantas mortes, não vão calar a nossa voz.  Calaram a voz da Marielle, mas não a nossa. Peço à todas que não desistam. Não se calem. Lutem até o fim, por justiça e pelo exercício fundamental da democracia. Lutaremos juntas contra todas as adversidades. Que o medo não nos faça sucumbir, que ele nos torne mais fortes.

Texto: Carla Pereira Moreira / Vice-presidente da Associação de Mulheres da Ilha do Governador  e líder da JMDB .