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Samuel Pessôa: uma viagem esclarecedora sobre a crise brasileira e o crescimento econômico
14/08/2021No último dia 02, a Fundação Ulysses Guimarães recebeu o doutor em Economia pela Universidade de São Paulo, Samuel Pessôa, para mais uma rodada de discussões do “O Brasil precisa pensar o Brasil”. Com o tema ‘Condições para o ciclo de crescimento econômico’, ele dividiu sua apresentação em cinco tópicos: a natureza da grande crise brasileira 2014 – 2016; a natureza da crise produzida pela epidemia e os diversos choques que advieram; a construção do ciclo de crescimento; o que tem acontecido no ano de 2021 e o que podemos esperar; o ajuste fiscal e outros esforços, a lição de casa para o próximo presidente.
Para Pessôa, a grande crise brasileira 2014–2016 é a grande, porque é a maior perda de PIB do país desde 1900. “E essa crise brasileira é o esgotamento de duas agendas: o contrato social da redemocratização, e o intervencionismo da economia que ocorreu entre 2007 e 2014 por economistas e intelectuais ligados à esquerda. “Nós mudamos a política do relacionamento do setor público com o mercado. Uma coisa é carga tributária crescer para que os programas sociais sejam financiados. Outra questão muito distinta é o governo intervir na forma de financiamento”, destacou.
E, alertou “ninguém investe num país democrático que o Congresso não consegue arbitrar as demandas da sociedade e por outro lado o esgotamento de intervencionismo do petismo gerou muito endividamento nas empresas sem gerar investimentos produtivos e eficientes que gerassem caixa”.
A distinção entre a atual crise e a crise 2014-2016, é que a atual foi produzida por um vírus. “A Covid gerou um choque de demanda por bens que substitui os serviços que a gente comprava no mercado, que nós não compramos mais por conta do distanciamento social, a indústria ficou produzindo que nem louca, está com estoques ainda muito baixos. Produção de bens gera muito consumo de matérias primas, falta matérias primas, falta serviços de transporte, e portanto tem um excesso de demanda também por commodities metálicas. E gerou um enorme choque de preços nas commodities metálicas, e nos insumos e nas matérias primas em geral”, explicou.
Ao falar sobre a construção do ciclo de crescimento, Samuel Pessôa destacou os anos entre 98 e 2004. “Nós fizemos muito a lição de casa. E essa lição de casa é composta de cinco variáveis macroeconômicas: déficit público, déficit primário, setor externo, exportações líquidas, câmbio real, remuneração do trabalho em salários e rentabilidade das empresas”.
Sobre o atual governo e o futuro, o doutro em economia observou que “eu penso que daqui para frente, o espaço para novas aprovações de reformas está muito reduzido, o presidente tem uma dificuldade de liderar, e não tem muito apetite para reformas, para dar um rumo”. E, exemplificou com a aprovação da Medida Provisória da privatização da Eletrobras, que segundo ele, quando não tem uma liderança muito clara do processo os grupos de pressão colocam na legislação os seus interesses, no caso seja o interesse de pequenas centrais hidrelétricas, seja o interesse de produtores de gás, de energia a gás, do produtor de carvão. “Ou seja, a privatização da Eletrobras foi ruim para o país, porque apesar de ter um lado bom que é privatizar uma empresa que precisa ser privatizada, gerou tanto custo potencial, tanto risco potencial para o Tesouro que era melhor status quo”.
Sobre 2022, ele fez uma alerta: “O crescimento este ano deve ser 5,5%. Eu não sou totalmente pessimista com relação ao ano que vem, mas na questão energética, estamos dependendo de um verão úmido principalmente no Sudeste e no Centro-Oeste. Mas se de fato o verão não ajudar, teremos problemas com energia ano que vem, com chance maior de racionamento. Aí a recuperação da economia ano que vem vai ser abortada por falta de energia”. E, o que falta para que se construa as condições de um ciclo mais longo de crescimento? “Primeiro tem que ajustar o fiscal. A política, a partir de 2023 vai ter que produzir um ajuste fiscal de R$ 250 a R$ 350 bilhões. Esse ajuste fiscal terá que ser feito por medidas que aumentem os impostos, medidas que reduzam os subsídios, as isenções, e medidas que reduzam o gasto público. Não precisa ser feito de um ano pro outro mas tem que ser um plano num conjunto de regras que garantam que ao longo de quatro a cinco anos a gente consiga produzir esse ajuste fiscal”.
O presidente do Conselho Editorial da FUG, ex-senador José Fogaça, elogiou muito a apresentação e disse que “uma viagem muito lúcida e muito esclarecedora sobre a crise brasileira desde as suas origens, que não está no atual governo, que vem de tempos anteriores, mas que se desdobraram ao longo desse período de maneira incrível. Acho que é importante ressaltar o fato de que as reformas são o melhor e grande caminho”.
Você pode assistir a íntegra da palestra pelo Youtube: https://youtu.be/wa-HTCU1aLA
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Thatiana Souza
Assessoria de Comunicação Social – FUG Nacional