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ARTIGO: Vale do Silício Goiano

09/11/2022

“Goiás é uma roça”. Há quem diga isso em tom pejorativo, mas defendemos aqui que essa imagem não retrata Goiás. Mais ainda, acreditamos que temos potencial para dar um salto de desenvolvimento, aliando nossas vocações econômicas à inovação. Ou seja, podemos construir um “Vale do Silício do Goiano”.

Mas, como tornar isso possível? Por meio de escolhas estratégicas, educação e de um ecossistema propício.

Primeiro, precisamos identificar áreas em que somos competitivos. Goiás é o 2° maior polo farmacêutico do país, é polo regional de medicina e possui o maior hospital público da região, o Hospital das Clínicas da UFG. Em 2022, ultrapassamos a barreira histórica de produção de mais de 30 milhões de toneladas de grãos, sendo o 2° estado que mais produz soja e gado e o 1° que mais produz sorgo e girassol. Somos quase 100% Cerrado e abrigamos um rico patrimônio natural: a Chapada dos Veadeiros.

De posse desses e de outros dados, o estado pode fazer escolhas estratégicas. Apostar em áreas com vantagem competitiva e agregar nelas inovação. Estamos falando do agro tech: agronegócio e tecnologia. Cerrado e sustentabilidade. Medicina e saúde. Inteligência artificial. Cultura e, por que não, moda. São segmentos em que Goiás já se destaca nacionalmente. Por que não buscar ser uma referência internacional?

Se sabemos aonde ir, precisamos preparar a base. Ela passa naturalmente pela educação. Não só um ensino básico de qualidade, mas uma obsessão saudável pelo ensino de língua estrangeira e de programação, duas competências necessárias para que Goiás se insira de vez no mundo. E o Ensino Técnico, considerado por muitos algo de segunda categoria, pode ser um dos principais veículos destes cursos e de outros, conectados com as demandas do mercado.

É preciso também ter um ecossistema propício. Depois da Segunda Guerra Mundial, Franklin Roosevelt encomendou um relatório ao ex-chefe do Departamento de Engenharia do MIT, Vannevar Bush, que ajudou a moldar a pesquisa na segunda metade do séc. XX: “Ciência, a fronteira sem fim”. O motor da inovação, segundo ele, viria por uma tripla parceria entre governo, empresas e universidades – hoje chamada de tripla hélice.

Já temos pesquisas de ponta feitas em solo goiano com apoio do governo, sendo exemplos o CEIA (inteligência artificial) e o CEAGRE (produção agrícola). Recentemente foi aprovado o Marco Legal da Inovação na Assembleia Legislativa de Goiás. As empresas começam a florescer. É hora de dar um salto, adicionando um quarto pilar: uma filantropia que tope investir em projetos que coloquem o estado na vanguarda mundial.

Durante a campanha eleitoral, teve até candidato prometendo criar uma zona franca de startups para se chegar a um Vale do Silício local. Mas é importante lembrar que a Califórnia, estado sede do Vale do Silício, tem uma das maiores cargas tributárias dos EUA. O imposto é uma dor do empreendedor que precisa ser endereçada, mas devemos evitar respostas simplistas. Chegaremos lá com um grande pacto que envolva educação e ciência. Parceria entre governo, universidades e setor privado. É um projeto de longo prazo, de décadas. Por isso mesmo, cada dia sem agir é um dia perdido. Vamos começar?

*Artigo publicado no Jornal O Popular (GO) em 08/11/2022 (Acesse O Popular no jornal)

Autores José Frederico Lyra Netto, Mestre em Políticas Públicas (Harvard) e presidente da filial da FUG-GO e Robert Bonifácio, Cientista político e professor da UFG